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ME BASTA ASÍ



"La palabra en el aire". Pedro Guerra canta, e o poeta Ángel González recita o poema que se segue:


ME BASTA ASÍ


Si yo fuese Dios
y tuviese el secreto,
haría un ser exacto a ti;
lo probaría
(a la manera de los panaderos
cuando prueban el pan, es decir:
con la boca),
y si ese sabor fuese
igual al tuyo, o sea
tu mismo olor, y tu manera
de sonreír,
y de guardar silencio,
y de estrechar mi mano estrictamente,
y de besarnos sin hacernos daño
—de esto sí estoy seguro: pongo
tanta atención cuando te beso—;
entonces,
si yo fuese Dios,
podría repetirte y repetirte,
siempre la misma y siempre diferente,
sin cansarme jamás del juego idéntico,
sin desdeñar tampoco la que fuiste
por la que ibas a ser dentro de nada;
ya no sé si me explico, pero quiero
aclarar que si yo fuese
Dios, haría
lo posible por ser Ángel González
para quererte tal como te quiero,
para aguardar con calma
a que te crees tú misma cada día
a que sorprendas todas las mañanas
la luz recién nacida con tu propia
luz, y corras
la cortina impalpable que separa
el sueño de la vida,
resucitándome con tu palabra,
Lázaro alegre,
yo,
mojado todavía
de sombras y pereza,
sorprendido y absorto
en la contemplación de todo aquello
que, en unión de mí mismo,
recuperas y salvas, mueves, dejas
abandonado cuando —luego— callas…
(Escucho tu silencio.
Oigo
constelaciones: existes.
Creo en ti.
Eres.
Me basta).


Ángel González
(o poeta faleceu em Madrid, no dia 12 de Janeiro de 2008, com 82 anos de idade)


Camille Saint-Saens, "Sansão e Dalila", fragm."Bacanal"


Miragem


Escrevia-te até à madrugada das estrelas, quando estas se abeiravam da linha ténue e indefinida que separa a obscuridade nocturna do azul radioso da alvorada.
Essa era a hora em que a tristeza, contornando todos os obstáculos e silêncios, se ausentava. No intervalo ameno do teu sorriso, a noite escorria serena e sem ponteiros, confundindo-se com a respiração tranquila da terra. Só a estrela de alva no mostrador de espelhos da etérea abóbada marcava as horas. E assim, Jano e Cronos, no rigor inflexível que distingue os deuses dos homens, determinavam a abertura das portas a um novo dia.
(…)
Era esse o momento solene e sublime em que os meus olhos, sob o efeito fulgurante do lampadário do Sol, divisavam ao longe somente os contornos do teu torso feminino navegando a bordo do vento morno que soprava do Oriente, como se foras uma peregrina miragem. Mas à medida que te aproximavas, as ondas resplandecentes dos teus cabelos, associadas às linhas bem definidas da tua túnica, moldavam sobre o fundo de areia o teu corpo de deusa-menina, mostrando-me que o fulgor dos teus olhos não era uma alucinação dos meus sentidos. Eras mesmo tu, fina no porte e ágil na cintura, fresca e harmoniosa como sempre, que, trazida pela brisa levantina do meio-dia, flutuavas por entre as sombras vaporosas das palmeiras e dos sicómoros, por dentro do silêncio quente e perfumado das dunas do tempo que tornam imutável a razão das coisas.


Nesses ditosos momentos, imóvel e envolto no teu delicioso perfume, esquecia tudo e todos na distância dolorosa oculta pelo sal das lágrimas, e também de mim me esquecia, como se houvera regressado aos juncos, às pedras polidas e profundas, e aos verdes limos das ribeiras cristalinas da minha infância.



Peregrino, in "O Templo das Palavras Esquecidas"