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Dá-me um pedaço desse teu deserto nu,
e com ele modelarei os meus dedos de areia.
E os meus dedos de areia hão-de ter raízes
e dessas raízes hão-de brotar palavras sobre as claves mudas.
E as claves mudas hão-de converter-se em lenho
e o lenho em nau. Uma nau romana, estranha,
de fogo e verbo greco-latinos, ondulando vertiginosamente sobre a espuma das águas
ao sabor das rajadas inclementes do vulturno.
Como um nocturno avejão de asas largas
profundamente dilaceradas.


Uma nau sem velas, nem leme, nem mastros, nem remos,
vogando opaca e silenciosa na noite atra
em busca de um porto de abrigo.
Uma nau fantasma que tenha por vexilo
a saudade da memória inicial
e por tripulantes os espectros de pedra, vento e areia,
que são os meus dedos de silício. Nados do deserto urbano. Que é o meu deserto.
O deserto nu onde te procuro,
ora convertido num frígido e plangente cristal de vídeo.


E é este gélido cristalino que teima em alterar,
por inversão, as retínicas e idílicas imagens
dos meus horizontes longínquos. Perdidos na voragem
da distância-abismo gerada e soprada por muitas ondas,
nesta floresta panda de sons mudos que esmagam o vazio.
Vazio que se veste de espelhos de branca espuma
e de uma miríade de lâmpadas estranhas.


Procuro-te, pois, no deserto urbano, através do abismo das sílabas
e de uma infinidade de labirintos sem margens.
Sei que é no seu termo que se encontra a afirmação dos teus olhos
e a confirmação do teu sorriso ático.
Por entre o silêncio tácito das arcas encoiradas
e o sossego deslumbrante dos livros antigos,
surges-me, assim, sol, asa, brisa, farol,
e ao teu porto de abrigo me recolho
como sedento peregrino ao viridente oásis.