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Nada perdi de que fosse dono. Nada ganhei do que não fora meu. O que perdi? Tudo do nada que tenha tido. O que ganhei? Nada do tudo que não tenha sido. O que me resta? Nada do nada que não se tenha ido.
(imagem da autoria de Edna Feitosa)
uma intensa e profunda mágoa escapava-se-lhe dos olhos como se todo o horizonte de água à sua volta se ensombrasse e a natureza inteira se tivesse bruscamente desagregado das estações de vivaldi para se unir à lacrimosa de mozart.
Um fluxo de dólares e de sangue jorrando sobre a Mesopotâmia. Um sino de fogo embutido nos umbrais do deserto. E a fúria insana. O crude golfando sobre o equinócio num concerto de cinzas e de morte.
E há falcões. Falcões que dançam e pairam sobre os soluços do amanhecer sangrento. Talvez abutres.
Cascatas de fogo, favilas calcinadas, estilhaços, gritos, pedaços de argila. Não há palavras. Apenas bombas e armas e a morte galopando sobre as cidades.
Breve, um talismã tomba sobre o asfalto. Um turbante esvoaça, branco, sob o luar negro de fumo. Calou-se a flauta de vento que flébil gemia sob a tamareira. Eternos e piedosos, a Lua e Vénus velando a morte.
Cessaram os sorrisos no país de Aladino. Sangue e lágrimas, apenas. Um sem-fim de covas e cemitérios e morte. A face lúgubre e sombria do fim.
Onde as crianças acordadas no seu sonho peregrino? Onde o berço da civilização? Onde a justiça? Onde Babilónia, a dos Jardins Suspensos? Onde as palavras que brotaram da argila? Onde a água de sonho do Tigre? Onde os pássaros voando na brisa levantina? Onde as chispas de oiro e prata das águas de espelhos do Eufrates ora tintas de sangue? Onde a mulher que embalava no berço o seu menino de olhos de mel? Onde o menino? Onde a Babel?
A coberto dos ventos de opróbrio e azeviche, nabucodonosores de barro tombam -outros elevam-se! - no resvalo da pedra de Sísifo. Será tarde, muito tarde, quando trepidantes de náusea os corcéis de fogo do Apocalipse migrarem para o frio na companhia dos pássaros cruéis.
O verbo distorcido aguarda, receoso, a frieza invencível da razão clara. Viscoso e mole o mutismo dos homens flanqueia a gelatina estática do caos. Fenece, a pouco e pouco, o país de Gilgamesh.
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(Contador de actualização automática)
Após 5 anos de guerra:
Civis iraquianos mortos, em consequência da guerra:
desde 19MAR2003 até 25MAI2008, entre 84.050 e 91.713, segundo o Iraq Body Count;
654.965, segundo a prestigiada revista médico-científica britânica The Lancet, de 21OUT2006 (número de mortos calculado até 30SET2006)
Entretanto, segundo a CNN, as baixas das forças invasoras elevavam-se, em 23MAI2008, a 4.391 mortos (4.079 militares norte-americanos e 312 militares das restantes forças da coligação).
Militares norte-americanos feridos (até 23MAI08): 30.112 (fonte do Pentágono, segundo a CNN)
Morreram no Iraque 123 jornalistas, desde o início da guerra até 19MAR2008.,
Não são conhecidas as baixas das forças de segurança do Iraque bem como as dos chamados “rebeldes”.
"O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons."
Os idos de Março sempre foram aziagos para os senhores da guerra.
Gaius Julius Caesar fora avisado por um áugure, quando a 15 de Março do ano 44 a.C. regressava da campanha da Gália, de que, como os idos de Março são fatídicos, não deveria entrar em Roma naquele dia. Insistiu, e entrou. O que aconteceu, já todos sabem. Foi apunhalado à entrada do Senado.
Mais de 2 milénios depois, nos idos de Março de 2003, “Georgius Bushus II”, “imperador da nova Roma”, decidiu invadir o Iraque, apesar da opinião contrária da maioria dos governos do Planeta, dado que as razões por ele aduzidas enfermavam de vários vícios. Ao arrepio das determinações da ONU e do bom senso, a guerra foi levada a efeito.
Talvez G. Bushus II não saiba desta coisa maléfica que são os idos de Março…
Embora os dicionários o não refiram - mencionam apenas que “crasso” deriva do latim “crassus” e significa “grosseiro” e “ignorante” - tenho para mim que o vocábulo deriva do nome de Marcus Licinius Crassus, homem grosseiro, teimoso e de medíocre talento, que foi cônsul e triúnviro da Roma Antiga, mercê da sua enorme fortuna e de fortes influências políticas.
Um dos muitos erros “crassos” daquele político romano foi não ter acatado os conselhos dos seus generais, ao pretender fazer guerra aos belicosos Partos, que apelidava de bárbaros imundos.
A Pártia englobava os territórios que vão da parte leste da Síria actual ao Afeganistão e Paquistão, e incluía todo o Irão e Iraque actuais, além de outras regiões vizinhas.
Crasso, devido à sua teimosia, viria a morrer às mãos dos Partos que tanto desprezava.
Talvez G. Bushus II também não saiba deste funesto acontecimento…
Acontecimento, aliás, já pressagiado (leia-se filmado) pelos 'áugures' do britânico "Channel 4", como se pode constatar no endereço seguinte (não é permitida a incorporação do clip no blog, pelo que trago, somente, a respectiva url):
http://www.youtube.com/watch?v=Wvwyx8Ai14U
Em comum com Marcus L. Crassus, temos que G. Bushus II ascendeu rapidamente na política auxiliado pela influência de instâncias poderosas e pela imensa fortuna familiar. Em comum, ainda, a invasão do Iraque e a tentativa de submissão da Síria e do Irão, para já não referir o Afeganistão (o outro tentou, mas morreu).
Creio que a “ nova Roma” tem dentro de si a figura temerária de um novo Marcos Licinius Crassus.
Quem diz que a História não se repete?
Entretanto, sugiro humildemente aos dicionaristas que passem a incluir nos dicionários um novo vocábulo: “bush”- adj., crasso, grosseiro, ignorante.
Nota: G. Bushus II declarou o término oficial da sua guerra de Pirro no dia 1 de Maio de 2003, altura em que o nº de mortos entre os seus soldados ascendia a 140 . A partir dessa data já morreram mais 3 715 militares, ou seja, 26,5 vezes aquele número (3 855 soldados norte-americanos mortos até 05NOV2007).
Que grande estratega, este Crassus moderno!!!
"Pilgrim" by Enya & The Hubble Deep Field by Tony Darnell
“(…)
Each heart is a pilgrim, each one wants to know the reason why the winds die and where the stories go. Pilgrim, in your jouney you may travel far, for pilgrim it's a long way to find out who you are...
Pilgrim it's a long way to find out who you are...
Pilgrim it's a long way to find out who you are...”
Esta é, para mim, a mais bela homenagem prestada a Carl Sagan (1934-1996), porventura o maior astrónomo, astrofísico e astroquímico de sempre.
peregrino
Mikhail Ivanovitch Glinka, "Nocturno para harpa" (1839).
Quase nocturno
Engastado de mil cristais é azul e fresco o céu nocturno. Alta vai a Lua de Março, círculo branco de prata constelado pelo Serpentário. Lua lânguida e trémula que beija as ondas luminosas do teu cabelo solto e o carmim cintilante dos teus lábios.
Flava e imóvel a seara de estrelas paira sob a abóbada zelosa do lume vivo dos teus olhos e da doçura da tua boca fresca.
No veludo dos teus lábios acesos na cor dos cravos flutua um sorriso de fada. Navego nesse sorriso e naufrago na superfície dos teus olhos. Trago nos meus abrigadas as mil distâncias, essas linhas imensuráveis e exactas que se fundem no sal mítico das lágrimas.
Trago nos pulsos o sangue roxo das amoras bravas e nos lábios o mel do verbo que colhi contigo no verão passado.
E trago comigo o grito da águia solitária, esse brado selvagem que ecoa no deserto em cujas areias se fundem os meus sonhos e onde as pérolas que brotam dos teus olhos se desfazem em miríades de cristais que sorvo silente a longos haustos.
Navego assim sem regresso na curva ardente dos teus lábios no rio fluente e sem margens do teu sorriso ático.
Salvador Bacarisse - Concertino guitarra y orquesta, op. 72 - Romanza