desencontro
procuro-te no silêncio agudo
das arestas da noite.
respondem-me os néons,
em equações severas, nocturnas,
que se espraiam em sombras
soturnas pelo estuário da minha mente.
oh, como é dura e arbitrária
a álgebra dos amantes!
maleável para muitos,
para outros imperscrutável,
rege-se por insanas equações
com muitas incógnitas
e raras soluções.
sigo o fogo do teu corpo
que aquece a noite
e dissipa a cerração.
sinto-te perto.
desço a “avenida da solidão”
e enxergo, na neblina
que se ergue do rio,
a brancura suave do teu colo.
subo atrás de ti a “rua do silêncio”,
onde, na madrugada das estrelas,
cai uma poalha de ouro
que flutua em cristais de luz e cor
que se confundem com os teus cabelos.
sigo-te agora nas brisas
do nardo e do jasmim.
no ar, uma mistura de essências e perfumes
faz-me perder de novo o rumo.
uma flor de lótus embriagada
flutua e dança num lago de lua.
delineia, na sua marmórea limpidez,
a curva que do teu ombro desce ao núbil flanco.
no enigma de espelhos que me rodeia
esqueço-me e confundo-me a meio do largo.
na geometria distraída duma placa toponímica
se prende a minha atenção.
gravadas a letras negras e silenciosas,
caem sobre mim, dolorosas,
as palavras “largo da desilusão”.
comparo-te ao fulgor das estrelas
que brilham na escuridão:
azul e oiro sobre os abismos da noite.
como os astros, não te deixas tocar.
[- tempo, silêncio, distância -
três incógnitas indecifráveis
navegando à bolina
sobre a equação cristalina do teu olhar.]